Foto: Valdeci C. de Souza
Maria da Graça Artioli é a mediadora de leitura em DESTAQUE essa semana. Bibliotecária formada pela UFRGS e especialista em Bibliotecas Escolares, atuou em escolas e hoje coordena o acervo de referência de literatura infantojuvenil da Câmara Rio-Grandense do Livro, a Biblioteca Moacyr Scliar. A partir do seu depoimento, constatamos sua paixão pelos livros e pela biblioteca, como um espaço vivo, dinâmico e formador de leitores e mediadores de leitura. Graça indica algumas fontes para mediadores de leitura que almejam qualificar o acervo de literatura infantojuvenil em seus espaços de atuação. Confira a sua entrevista:
1 - Conta um pouco pra gente a tua história de leitora
na infância.
Bem, eu tive muitos livros e ótimas influências quando
criança. As lembranças que tenho me trazem sensações de felicidade, alegria e
amor. Agradeço à minha família: pai, mãe, avó e tios por me incentivarem a ler
e pelos livros presenteados. E é bom lembrar que ninguém era rico.
Lembro, quando era bem pequena, que ganhei uns
minilivros de uma banca de revistas na praia de Capão da Canoa. Ganhei da
Disney e Contos de Fadas, da Editora Melhoramentos. Eram os anos 50,60. Meu pai
tinha um exemplar do Saci de Monteiro Lobato, 5ª edição de 1934, da Companhia
Editora Nacional, que eu herdei com ilustrações de Jean G. Villin. Pollyana
ganhei de minha mãe.
Ganhei de aniversário uma edição grossa de capa dura
das histórias infantis de Erico Verissimo: lamento não ter guardado, poderia
ter restaurado, era costurado e muito grosso, foi muito manuseado. Adorava a
história do Avião Vermelho, dos Porquinhos Pobres e do Elefante Basílio...
Lembro quando minha avó veio nos visitar e nós
morávamos longe, o pai estava doente, ela trouxe para mim: "Uma casa à
beira do riacho " da Laura Ingalls, depois a mãe comprou a coleção toda de
oito volumes. Estes eu adoro!!!
Lembro do meu pai me levando ao cinema na Benjamin
Constant (cine Presidente). Vi Alice no país das maravilhas e na saída ganhei
um álbum de figurinhas. Bom, eu adoro álbuns até hoje e tive várias edições da
Alice. Fiz álbum da Frozen, neste verão.
Outro filme que vi foi Marcelino Pão e Vinho, baseado
num livro.
Agora assisti Malévola, em junho de 2014, é uma releitura da Bela Adormecida (Disney), e deu vontade de ler novamente o conto.
Agora assisti Malévola, em junho de 2014, é uma releitura da Bela Adormecida (Disney), e deu vontade de ler novamente o conto.
Outra lembrança de infância são as revistas da
Diversões Juvenis que tinham contos, lendas, histórias em quadrinhos, receitas
culinárias, experiências e trabalhos manuais.
2 - Qual é o teu livro de literatura infanto
juvenil favorito? Fala um pouco sobre ele:
Não lembro de um livro favorito. Os que eu lembro que
gostei mais foram os seguintes:
Li, para a escola, Tibicuera de Erico Verissimo. Ele me marcou porque
fiz ilustrações do livro à mão livre, ficaram lindas e me encantei com isso e
não esqueço. Sempre achei que não desenhava nada bem, só pode ter sido
influência do livro, acredito.
Lembro de Edgar Allan Poe, Agatha Christie,
romances policiais.
Li também O meu pé de laranja lima.
Um que me impressionou bastante , eu tinha 18 anos
acho, foi "Recordações da casas dos mortos" de Dostoiévski.
Da faculdade lembro do Apanhador no campo de centeio e O Forte de Adonias Filho.
Da faculdade lembro do Apanhador no campo de centeio e O Forte de Adonias Filho.
Eu continuo apaixonada por literatura infanto juvenil,
anos atrás a paixão foi Harry Potter, um conto de fadas moderno (a eterna luta do bem contra o
mal).
3 - Qual é o perfil do mediador de leitura que estimula crianças e jovens a se tornarem leitores?
O mediador de leitura é aquele que naturalmente gosta de ler, ama, passa uma verdade, incentiva, contagia. Podemos ler resenhas, fazer cursos de Literatura infanto juvenil, conhecer escritores, participar de lançamentos, usar bibliotecas, ir a livrarias.
A Feira do Livro de Porto Alegre é intensa e cheia de
recursos para se atualizar nesta área. Fiz muitos cursos de um dia em
Livrarias (Paulinas, Paulus, Moderna , Ática, Globo, e Seminários na Casa de
Cultura Mario Quintana, no Centro Cultura CEEE Erico Verissimo, em
Universidades como a PUCRS.
4 - Como constituir um acervo de qualidade de literatura infanto juvenil na biblioteca escolar?
Consultando catálogos de Editoras, Prêmio FNLIJ,
Prêmios Jabuti , Hans C. Andersen e outros, blog Dobras de leitura, Confraria
Reinações (de literatura infanto juvenil em Porto Alegre).
Hoje temos a Internet, em que podemos acessar o blog
de escritores e conhecer lançamentos, divulgados até pelo Facebook.
Na cidade de Porto Alegre, existem muitos sebos e os
sites da Traça Livraria e Estante Virtual são excelentes.
Fazer feira de livro na escola, participar de feiras
na sua comunidade, tudo pensando em gerar recursos para comprar livros para a
biblioteca.
Aqui algumas dicas :
- Listas de livros premiados pela
Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil entre 1975 e 2014 - http://www.fnlij.org.br/principal.asp
- Listas de livros selecionados pelo MEC
para integrar o Programa Nacional da Biblioteca Escolar em 2012 -http://www.fnde.gov.br/index.php/programas-biblioteca-da-escola
- Lista 30 melhores livros infantis de
2014 – Revista Crescer - http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI237592-17759,00-OS+MELHORES+LIVROS+INFANTIS.html
- Listas do Prêmio Jabuti (2000 a 2013),
promovido pela Câmara Brasileira do Livro - http://www.cbl.org.br/jabuti/
- Lista do Prêmio Açorianos de
Literatura, promovido pela Secretaria Municipal da Cultura - http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smc/default.php?p_secao=56
5 - Conta um pouco da tua atuação como coordenadora da
Biblioteca Moacyr Scliar (acervo de referência de literatura infanto juvenil da
Câmara Rio-Grandense do Livro):
A Biblioteca Moacyr Scliar, da Câmara Rio Grandense do
Livro, nasceu da ideia de podermos auxiliar a todos que vem à feira sobre o que
existe de qualidade no mercado editorial. Perguntas como “O que comprar para
bibliotecas escolares?” “O que dar para seu filho, neto?” “Como presentear com
um bom livro?”
A Biblioteca serve de consulta para os professores e
mediadores de leitura, consulta local para coordenadores dos programas de
leitura que a Câmara Rio-Grandense do Livro desenvolve com seus parceiros.
Durante a Feira, separamos o acervo dos autores que
estarão presentes na programação do evento. Contamos com o apoio dos próprios
escritores, editores, distribuidores e livreiros, que entendem o papel da
Biblioteca como divulgador epromotor da leitura.
6 - Como bibliotecária e mediadora de leitura, qual o papel da literatura infanto juvenil na escola?
O papel da Literatura infantojuvenil é fundamental na
escola, principalmente quando as crianças não têm em casa livros. A Escola tem
papel essencial na vida de uma criança, e uma biblioteca, por mais simples que
seja, oferece um mundo diferente para os alunos.
Um professor que ama o que faz e conta histórias para
seus alunos faz a diferença.
Quando trabalhei em escola, lembro de uma professora
de Ciências que gostava muito de ler e quando contava para seus alunos o que
lia, eles corriam à Biblioteca perguntar se tinha o livro.
Tinha também a professora de Português que adorava
ouvir histórias, então levava a turma toda semana para a biblioteca, trocavam
livros, fazíamos teatro, e eu contava histórias.
Quando fazia Feira de Livro na escola era uma festa! Os
alunos participavam de tudo!
A literatura é emoção, é arte. A literatura cura.
Em 2005, conheci a Pedagogia Waldorf, trabalhei na
escola Waldorf Querência. Os professores não utilizavam livro didático, usavam
muitos livros de literatura para embasar seus conteúdos em sala de aula. As
crianças convivem desde cedo com o exemplo dos adultos leitores. No 1º ano se
contavam "Contos de Fadas" em sala de aula. No 2º, histórias da
Criação do Mundo. No 3º, Fábulas e Lendas, e assim por diante... Recomendo o
livro “HISTÓRIAS CURATIVAS PARA COMPORTAMENTOS DESAFIADORES” de Susan Perrow,
faz parte da Pedagogia Curativa, na pedagogia Waldorf.
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Algumas frases,
para encerrar:
O livro é um alimento para a alma! Um companheiro, um
amigo!
“É claro que meus filhos terão
computadores, mas antes terão livros.” (Bill Gates)
"Emerson disse que uma biblioteca é
um laboratório Mágico onde vivem
muitos espíritos encantados .Eles despertam , quando chamados. Fechado, um
livro é literal e geometricamente um volume, uma coisa entre outras. Quando o livro é aberto e se encontra
com seu leitor, então ocorre o fato estético.
Deve-se acrescentar que um mesmo livro
muda em relação a um mesmo leitor, já que mudamos tanto."
Do livro Sete noites (ensaios) de Jorge
Luis Borges.
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