Semana 3
Raul da Ferrugem Azul
Autora: Ana Maria Machado Editora: Salamandra
Já que hoje, dia 18 de junho, é meu aniversário, eu mesma compartilharei uma leitura de infância muito importante para mim. Quando tinha 10 anos, na quarta série, a professora Conceição leu conosco o livro "Raul da Ferrugem Azul", de Ana Maria Machado. Lembro que, em uma das aulas, a turma toda parou na janela da sala porque havia caído neve - na verdade era mais granizo do que neve, mas deixa sim, o relato fica mais mágico e mais benjaminiano.
O livro narra a história de Raul, um garoto que começa perceber manchas de ferrugem azuis em várias partes do seu corpo. Ele pede ajuda à empregada da casa, Tita, a empregada que, meio sem entender, lhe diz para aconselhar-se com um velho da montanha, o Preto Velho. No caminho para o morro, Raul encontra Estela, a menina da ferrugem amarela, e, mais do que isso, alguém com quem pode compartilhar suas angústias. O Preto Velho lhe conta que só ele, Raul, pode fazer as manchas de ferrugem desaparecerem. Aí o menino começa o seu processo de "desenferrujamento": (página 45)
Entrou em casa alegre, cantarolando.
Contou para a Tita:
-Fui ver o Preto Velho.
– Como é que foi?
Ele te ajudou?
– Ajudou.
Aí ela não aguentou
mais perguntou:
- Que é que era Raul?
E
ele:
- Era uma história que eu não
entendia e não sabia como continuava. Para falar a verdade, não
sabia como ela começava. Mas agora eu já sei.
Toda a vida você me contou estórias.
Hoje quem conta sou eu.
E Raul refez a sua própria história (leia o livro para saber).
Naquela época, o livro ecoou muito em mim. Apesar de ser uma grande leitora, sempre fui uma guria tímida, com dificuldade de me expressar. Aliás, guardo uma desconfiança ao abrir a minha boca até hoje. Raul vai perceber, na sua viagem de autoconhecimento, que suas ferrugens aparecem quando ele se cala e não age perante às situações de suas vidas. A metáfora criada por Ana Maria é incrível para colocar à palavra as dores e angústias das crianças, muitas vezes não tomadas a sério por seus cuidadores.
Guardo o exemplar do livro até hoje, a lombada um pouco mastigada pelo meu irmão caçula, as páginas amareladas, e uma bela história.
Semana 2
O pequeno príncipe
Autor: Antoine de Saint-Exupéry Editora: Agir
Texto de Bruno Dias Ebertz (doze anos)
Esta história fala sobre um menino que, perplexo com as contradições das pessoas grandes, segue sua viagem de compreensão dos mundos ao seu redor, como um símbolo dessa nossa eterna busca por significado e o inevitável confronto com as ideias e comportamentos alheios que a princípio nos surpreendem, ou mesmo nos irritam, mas que por fim contribuem para o desenvolvimento de nossa própria percepção das coisas como o extraordinário e misterioso.
Na história se notam muitos elementos diferentes que mostram mais o lado psicológico dos personagens, como por exemplo, o narrador anônimo encontrou o Pequeno Príncipe quando seu avião caiu no deserto do Saara. O narrador se empenhava em consertar seu avião, quando ele ouviu um pequeno lhe pedindo para desenhar um carneiro. O narrador se voltou e viu o Pequeno Príncipe. O narrador mostrou-lhe o desenho. O Pequeno Príncipe disse-lhe que não queria um elefante engolido por uma jiboia e sim um carneiro.
Ele teve dificuldades em desenhá-lo, pois fora desencorajado de desenhar quando era pequeno. Depois de várias tentativas, teve a ideia de desenhá-lo dentro de uma caixa. Para a surpresa do narrador, o pequeno príncipe aceitou o desenho. Foi deste modo que o narrador travou conhecimentos com o Pequeno Príncipe.
Quando você lê o livro do Pequeno Príncipe, você começa a relacionar as experiências e rejeições dos seus primeiros desenhos com o narrador. O livro toca muito nas questões que te procuram pensar mais em entender o mundo imaginário das pessoas.
Ao longo da história você começa a perceber que toda a timidez que o narrador tinha com o Pequeno Príncipe vai sumindo e eles começam a se aproximar e se conhecerem melhor, até que o Pequeno Príncipe contou o drama que ele vivia, em seu planeta, Baobá, a árvore que cresce muito, e por este motivo, para salvar a árvore ele precisava deixar seu planeta, que era muito pequeno.
Semana 1
Fábula Urbana
Autor: José Rezende Jr e Rogério Coelho Editora: Edições de Janeiro
Sem fantasia a dor é muita.
Macedonio Fernández, escritor e filósofo argentino
Ao ler, pela primeira
vez, numa viagem de trem até o trabalho, o livro Fábula Urbana, de José Rezende Jr. e Rogério Coelho, percebi, como
leitora e como mediadora de leitura, que se tratava de um livro bastante desafiador.
Como leitora, adulta, o texto me pareceu, à primeira vista, um tanto exigente
para um leitor criança ou adolescente. Porém, como mediadora, minha criança
interior alertou à adulta censora que boas histórias são aquelas que nos
transformam e nos tornam menos imperfeitos, e que Fábula Urbana certamente era um grande livro, que deveria ser
compartilhado com leitores de pequena e média idade.
Como sempre, fui com o
coração-criança para a sessão de mediação de leitura. Tive, como companheiros,
quatro alunos do sexto ano, todos com onze anos de idade: Eduardo Rocha
Schubert, Luise Andrade Dörr, Rafaela Kroll Dias e Vitória Luciana Brandão
Zeferino. Iniciamos pela leitura do título da história e a leitura da capa,
que, como todo o livro, tem um belíssimo projeto gráfico. O livro tem um
formato alongado e estreito, o que lembra um prédio. Logo nas ilustrações da
capa, os alunos trouxeram a geometria urbana dos prédios, composta por retas
interpostas (uma em cima da outra), traçando a geografia da cidade na qual
surgem dois balões com o seguinte diálogo: “Ei, tio! Me paga um livro?” “Não
tenho trocado.” O que virá nessa história? Um menino que pede um livro? Por que
não um pedaço de comida, uns centavos? A surpresa foi geral.
A história nos
apresenta duas personagens (lembrado por Rafaela, sem nome, como nas fábulas),
o homem de terno e o menino, e alterna-se entre o diálogo das personagens,
registrado em discurso direto (nos balões) e no relato do narrador em 3ª
pessoa, onisciente, que vai narrando as reações da personagem “homem de terno”
perante o “menino”. Nas ilustrações (como apontado por Eduardo), o homem tem o rosto iluminado, em contraposição ao
menino, que tem a fisionomia de alguém escondido, “invisível para a sociedade”.
O desdobramento do
diálogo das personagens acontece a partir do menino que pede ao homem, num
shopping center, para que ele lhe compre um livro. A reação do homem é de
eterna desconfiança e medo, e, perante a insistência cordial do menino, os dois
entram na livraria. Ao se deparar com o imperativo “escolhe”, o menino responde
“tio, como é que escolhe?”. Ao contrário do que se possa pensar, o homem de
terno escolhe um livro qualquer. O menino lhe pede para ler o livro e a leitura
é feita de qualquer jeito, “num fôlego só”. Ao se separarem, depois da compra,
se processa o sentimento de culpa do homem de terno, que se dá conta de que não
tivera dito para o menino, ao fim da história, e “foram felizes para a sempre”.
A seguir, ao parar num semáforo, o homem de terno tem uma nova surpresa.
Pelo próprio título da
história, Fábula Urbana é um livro
que apresenta ao leitor diversas camadas de sentido, como a boa literatura. O
livro infantojuvenil, cuja natureza é híbrida, constituída de texto e imagens,
nutre o leitor de várias mensagens (em tom moral, não moralizante) implícitas,
que nos fazem pensar, como disseram os adolescentes: dar valor ao que temos
(Vitória), pensar que o mundo não é só o que a gente pensa (Rafaela), o mundo
não gira em torno da gente (Luise), dinheiro não compra amor e carinho (como
apontaram Luise e Rafaela, que lembraram que o homem de terno não tivera
contado histórias nem para seus próprios filhos). As imagens, que por trás da
geografia urbana cor de telha avermelhada, também traz elementos singelos, como
o céu, a lua e as estrelas (como lembrou Eduardo).
A discussão com o grupo
trouxe à tona outras leituras, como a do livro As mentiras de Paulinho, de Fernanda Lopes de Almeida, em que o
menino Paulinho inventava “outro tipo de verdade”: a literatura nos apresenta,
também, outro tipo de realidade, que não é a nossa. O menino de Fábula Urbana, ao ter posse do livro de
contos de fadas em suas mãos, consegue fugir, por alguns instantes, da sua dura
realidade. Nós, leitores, ao conhecermos uma nova história, fugimos da
realidade para sabermos lidar com ela (Rafaela).
Fábula Urbana é um livro que toca profundamente nossa experiência
de estar no mundo. Não ficamos alheios à sua leitura. Talvez por isso que, à
primeira lida, ele tenha me parecido desafiador. Na sessão de mediação,
comprovei que, nós, adultos, temos muito a aprender com as crianças e
adolescentes, e, para isso, a literatura infantojuvenil nos tem dado o seu
recado: é preciso educar o olhar.
Obrigada ao amigo Tino Freitas por ter me apresentado
o livro e compartilhado comigo essa bela história!
Na foto, da esquerda para a direita: eu, Eduardo, Luise, Rafaela e Vitória.
Fiquei com muita vontade de ler o livro. Que trabalho lindo, Ana Paula! Parabéns!!! Bjs
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