sexta-feira, 28 de abril de 2017

A formação de leitores literários: um desafio para a escola


Pintura de Ditz. Fonte: Pinterest.

Ainda que a leitura não seja uma prática constante na vida de grande parte da população brasileira – a última pesquisa Retratos da Leitura, divulgada em 18 de maio, revelou que o brasileiro lê, em média, 4,96 livros por ano – na última década, temos o surgimento, a partir do fim dos anos noventa, de várias iniciativas mobilizadas por comunidades, escolas, instituições públicas e privadas que se propõem a democratizar o acesso ao livro e valorizá-lo no imaginário coletivo. Outro dado da pesquisa recente é de que o principal agente influenciador na formação de leitores é o professor, e não mais a mãe, figura destacada pelos entrevistados até as duas últimas pesquisas Retratos da Leitura no Brasil.
O processo de universalização do acesso ao ensino traz novos desafios à escola brasileira, sendo, um dos maiores, o de formar leitores. A escola pública tem acolhido alunos oriundos de contextos onde as práticas de leitura e de escrita não dialogam, de forma direta, com suas necessidades, uma vez que, a seus pais e avós, lhes fora negado, historicamente, o direto à educação formal. No entanto, nestes ambientes familiares pouco letrados, circulam amplamente textos orais da cultura popular, como as cantigas, parlendas, ditados populares, lendas urbanas, e os mitos.
Ora, se a iniciação literária destes alunos é pela oralidade, por que não trazê-la para a escola e tomá-la como fonte de conhecimento e material de estudo? Há alguns anos, trabalho com turmas dos anos finais do Ensino Fundamental o registro de lendas urbanas da comunidade local e, a partir deste estudo, os alunos conseguem identificar e relacionar conteúdos de outras disciplinas, como, características geográficas de determinadas regiões associadas à presença de elementos sobrenaturais (por exemplo, em comunidades menos urbanizadas, a presença de lobisomem), e o trabalho se torna consistente a partir da leitura e da produção de outros textos sobre e/ou do gênero estudado em sala de aula. Além disso, outras linguagens artísticas (cinema, música, artes plásticas, entre outras) e outros suportes, sobretudo sites da internet, dialogam com as produções estudadas, fazendo que o aluno amplie seu repertório cultural sem desconsiderar o contexto em que está inserido culturalmente.

A formação de leitores literários se consolida por meio de ações mediadoras que façam com que o aluno se aproprie da palavra escrita como uma ferramenta para perceber, entender e intervir em sua própria narrativa de vida. Tal processo exige a consolidação de um projeto pedagógico de formação de leitores, que se qualifica com a participação de vários segmentos da escola, sobretudo dos professores e de seus gestores, que, muitas vezes, precisam subsidiar, financeiramente, a compra de acervo para a biblioteca e para os projetos de leitura literária. Para que isso se efetive, também é fundamental que os mediadores de leitura que estejam à frente dos projetos sejam leitores de literatura de qualidade, tenham a sensibilidade para a escuta do repertório cultural trazido pelos alunos e que ofereçam propostas de produção que sejam espaços de construção de subjetividade dos seus educandos.        

Um comentário:

  1. Me encontrei nesse texto, é mesmo assim que vejo, e por amar a literatura percebo que falta exemplos, oportunidades, que o professor leia mesmos e a criança já sabe ler, diversidade de gêneros, aqui inicio todo dia a aula com um poema, conto, música, parlenda e de acordo com os conteúdos assim de forma contextualizada a leitura é a mola maior que impulsiona a aprendizagem e o prazer pelos livros

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